Antes de começarmos a falar sobre
o preconceito linguístico temos que saber o que é preconceito, o que ele faz e
porque ele ocorre.
Preconceito é uma ideia ou conceito preconcebido, manifestado geralmente
na forma de uma
atitude discriminatória perante pessoas, lugares
ou tradições considerados diferentes ou
"estranhos", e costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém,
ou de um grupo social, ao que lhe é diferente.
De modo geral, o ponto de partida do preconceito é uma generalização
superficial, chamada estereótipo. Observar características comuns a
grupos são consideradas preconceituosas quando entrarem para o campo da
agressividade ou da discriminação.
Observa-se então que,
pela superficialidade ou pela estereotipia, o preconceito é um erro.
Entretanto, trata-se de um erro que faz parte do domínio da crença, não do
conhecimento, ou seja, ele tem uma base irracional e por isso é difícil fazer
qualquer questionamento fundamentado num argumento ou raciocinio.
Além dos tipos de preconceito já
vistos temos o preconceito linguístico, que será o mais abordado nesse blog. Eu
dividi esse tema em cinco pontos, são eles:
- O que é?
- Origem
- Consequências
- Preconceito no Brasil
- Formas de combate
O que é?
O
preconceito linguístico nada mais é do que um preconceito social
que distingue e separa classes sociais, estigmatizando ou prestigiando
falantes da língua portuguesa brasileira.
É
importante sabermos alguns conceitos sobre a língua:
- O preconceito linguístico é
uma forma de preconceito a determinadas variedades linguísticas.
- Para a linguística os
chamados erros gramaticais não existem nas linguas naturais.
- A língua falada e língua escrita são coisas totalmente
diferentes.
Origem
A fala e
a escrita fazem parte de nosso cotidiano, e não devem ser confundidas, porque a
fala é natural à pessoa, enquanto a escrita pode ou não ser aprendida.
A língua escrita e a língua falada são muito diferentes,
porque enquanto a primeira é estática e não têm mudanças, a segunda vive
mudando, se adaptando a cada nova geração sempre recebendo novas palavras e
verbetes, normalmente utilizadas por falantes da
zona rural ou dos subúrbios.
As diferenças entre elas não
são bem aceitas por alguns membros da sociedade, uma minoria pertencente a
classes privilegiadas, que consideram um desrespeito a norma culta e tentam
impor uma unidade lingüística existente apenas na gramática, ou seja, apesar da
enorme diversidade e variabilidade apresentada pela língua, no uso cotidiano,
falada no Brasil as pessoas tendem a transformar a variedade linguistica
utilizada pelo outro em “erro”.
Consequências
A
influência que a língua tem sobre a nossa vida é muito clara. O modo de falar e
de escrever pode dizer de onde o falante vem e até a classe social que ele está
inserido.
O
preconceito lingüístico pode desestruturar uma pessoa socialmente pois o
simples ato de ironizar o erro de uma pessoa acaba cercando o aluno com o
medo do erro, o que pode acabar prejudicando o seu desempenho escolar.
Outra conseqüência é que a norma culta, tida como norma padrão, que
deveria ajudar na formação de uma sociedade compacta, em termos lingüísticos, e
consciente da importância da língua, no entanto no Brasil isso se tornou um
problema, pois esta norma que deveria unir acaba excluindo. Apesar disso a
gramatica deve fazer parte do material didático da escola, pois ela deve servir
como um meio de orientação, e não como uma detentora de todas as “verdades”.
Preconceito no Brasil
O
preconceito lingüístico no Brasil se dá mais em relação a pessoas das zonas
rurais, às pessoas mais pobres, e aos diferentes sotaques apresentados no país.
A mídia e
os principais meios de comunicação (televisão, rádio e internet) deveriam
combater o preconceito lingüístico, mas ao invés disso o reforçam, gozando e
ironizando as variedades linguisticas diferentes da sua. Pelo fato da maior
parte da mídia se concentrar na região sudeste, o preconceito lingüístico é
muito reforçado contra o sotaque nordestino, e contra as pessoas do interior.
O primeiro passo para se combater o preconceito lingüístico no Brasil é admitir a sua existência, pois ao
contrario dos outros tipos de preconceito, como a descriminação por opção
sexual, cor e sexo, ele é invisível aos olhos da sociedade, é como se ele não
existisse, já os outros preconceitos são enquadrados dentro dos “politicamente
incorretos”,e são muito combatidos.
As escolas deveriam abordar mais nesse tema, pois muitas crianças, mesmo
sem saber, acabam ironizando os colegas que falam “errado”, e alem de serem
preconceituosas acabam fazendo bullyng com eles.
Outra forma de combate é a desmistificação de alguns mitos no Brasil,
que reforçam o preconceito lingüístico, tais como:
·
Por ser uma língua trazida de Portugal só os portugueses sabem falar bem e que o português falado lá é uma
língua mais correta, o que na verdade é um conceito totalmente errado, pois a
diferença notada entre os dois países ocorre porque no Brasil houve a
construção de uma identidade própria desde a independência e assim as línguas
evoluíram de modo diferente.
·
Existe uma unidade linguística no
Brasil. Esse mito é facilmente desmentido por várias razões que vão desde a
desigualdade social, os vícios de linguagem, o local onde a pessoa é criada e
vários outros pequenos e grandes fatores que fazem existir uma grande variedade
linguistica no Brasil.
·
O domínio da norma padrão é um
instrumento de ascensão social. Esse mito chega a ser absurdo, pelo
simples exemplo de que os professores de português, que devem saber mais do que
ninguém a norma padrão, são pouco valorizados na sociedade e recebem baixos
salários, enquanto um grande fazendeiro, que tenha apenas alguns anos de ensino
primário, mas seja dono de milhares de cabeças de gado e tenha influência
política, pode falar português da forma que quiser pois sua posição social está
garantida por outros meios
·
É preciso saber gramática para falar e
escrever bem. É difícil encontrar alguém que não concorde com essa frase, mas se isso
fosse verdade todos os gramáticos seriam bons escritores e os bons escritores
seriam especialistas em gramática, o que não é verdade tomados os exemplos de
alguns grandes escritores como: Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade e
Rubem Braga.
Esses e outros mitos são utilizados por pessoas que defendem o uso do
português da norma culta no dia a dia, essas pessoas também temem que, pelo
amplo uso das variedades lingüísticas e o desuso dos padrões estabelecidos pela
gramática, a língua portuguesa entre em decadência, visto que as variedades, em
geral, têm mais proximidade com os jovens, independente de sua classe social
Na
realidade não há o preconceito social e sim os preconceitos sociais, porque
normalmente as pessoas só se referem a ele sendo o preconceito entre as classes
sociais, mas ele abrange muito mais do que isso, englobando todos os
preconceitos ligados a sociedade. Por esse motivo não deve haver uma distinção
entre preconceito lingüístico e social, pois um está inserido no outro.
O
preconceito social, no que se refere às classes sociais, em geral é exercido
sobre as pessoas que sofrem mais na sociedade, como os pobres, analfabetos, aqueles que não têm acesso à escolarização. Por não terem a
oportunidade de entrarem numa escola ou de nela permanecerem, muitos acabam
sendo acusadas de falar errado e de deteriorar a língua portuguesa.
Quando
fazemos uma real analise sobre o assunto vemos que há uma transferência do que
a sociedade acusa a pessoa de ser para a língua. Então se uma pessoa é pobre, a
língua dela é pobre. Se uma pessoa vive numa região atrasada sua língua vai ser
atrasada.
Uma
conclusão que chegamos é que a maioria das variedades lingüísticas sempre serão
consideradas erradas porque não correspondem aquilo que as pessoas detentoras
do poder na sociedade acham correto.
Um ultimo
ponto, mas não menos importante, a ser analisado é o porque de uma criança criada
num meio familiar (ou não) adquirir uma forma de falar, chegar à escola e ter
sua fala considerada errada pelos colegas que tiveram um ambiente familiar
diferente, no que se refere a fala.
Essa
criança chega à escola e percebe que, diante do é apresentado à ela pela
gramática, “tudo” que foi aprendido com
sua família e amigos é “errado” e tem que rever os seus conceitos sobre a
língua portuguesa. Esse rever causa uma confusão na cabeça dela e acaba
chegando à conclusão de que passou muitos anos da sua vida falando “errado” e
não se sente capaz de dominar os recursos do seu próprio idioma, passando a não
gostar do estudo da língua portuguesa e da gramática.
fonte:http://opreconceitolinguistico2.blogspot.com.br/2011/05/o-preconceito-linguistico.html