Os surdos, além de serem indivíduos que possuem surdez, por norma são utilizadores de uma comunicação espaço-visual, como principal meio de conhecer o mundo em substituição
à audição e à fala, tendo ainda uma cultura característica.
No Brasil
eles desenvolveram a LIBRAS, e em Portugal, a LGP. Já outros,
por viverem isolados ou em locais onde não exista uma comunidade surda,
apenas se comunicam por gestos. Existem surdos que por imposição familiar ou
opção pessoal preferem utilizar a língua falada.
Progresso
na cultura surda
Ao longo dos
anos, as pesquisas interdisciplinares sobre surdez e sobre as línguas de sinais, realizadas no Brasil e em outros
países, tem contribuído para a modificação gradual da visão dos surdos,
compartilhada pela sociedade ouvinte em geral.
Esses estudos
têm classificado os surdos em duas categorias:
- Os portadores de surdez patológica,
normalmente adquirida em idade adulta;
- E aqueles cuja surdez é um traço
fisiológico distintivo, não implicando, necessariamente, em deficiência
neurológica ou mental; antes, caracterizando-os como integrantes de minorias lingüístico
- culturais;
este é o caso da maioria dos surdos congênitos.
O fato de
integrarem um grupo lingüístico-cultural distinto da maioria lingüística do seu
país de origem, equipara-os a imigrantes estrangeiros. Porém, o fato de não disporem do meio de recepção
da língua oral, pela audição, coloca-os em desvantagem em relação aos imigrantes, com
respeito ao aprendizado e desenvolvimento da fluência nessa língua. Essa
situação justifica a necessidade da mediação dos intérpretes em um número
infinito de contextos e situações do quotidiano dessas pessoas.
Devido ao bloqueio auditivo, seu domínio da língua oral nunca poderá se equiparar ao
domínio da sua língua materna de sinais, ainda que faça uso da leitura labial,
visto que, essa técnica o habilita, quando muito, a perceber apenas os aspectos
articulatórios da fonologia da língua. Daí sua enorme necessidade da mediação do intérprete
de língua de sinais.
No caso
específico dos surdos brasileiros, cuja língua materna de sinais é a LIBRAS, os intérpretes que os assistem são chamados de “Intérpretes
de LIBRAS”.
No Brasil,
existem pelo menos duas situações em que a lei confere ao surdo o direito a
intérprete de LIBRAS:
- nos depoimentos e julgamentos de surdos
(área penal);
- e no processo de inclusão de educando
os surdos nas classes de ensino regular (área educacional).
Devido as
constantes modificações e progresso neste campo, nas concepções de ensino de
língua de sinais, atualmente, tem-se dado ênfase ao mecanismo de aprendizado
visual do surdo e a sua condição bilíngüe-bicultural. Contudo, o
surdo é bilíngüe-bicultural no sentido de que convive diariamente com
duas línguas e culturas: sua língua materna de sinais(cultura surda) e
língua oral( cultura ouvinte), ou de LIBRAS, em se tratando dos surdos
brasileiros.
Deficiência auditiva
O termo
deficiente auditivo tem sido largamente utilizado por profissionais ligados à
educação dos surdos. O uso da expressão deficiente auditivo, já foi
muito criticado refletindo uma visão médico-organicista. Nela, o surdo é visto
como portador de uma patologia localizada, uma deficiência que precisa ser
tratada, para que seus efeitos sejam debelados.
Alguns
fatores podem afetar o processo de aprendizagem de pessoas surdas, como por
exemplo: o período em que os pais reconhecem a perda auditiva, o envolvimento
dos pais na educação das crianças, os problemas físicos associados, os
encaminhamentos feitos, o tipo de atendimento realizado, entre outros.
Embora os
aspectos médico, individual e familiar ampliem o universo de análise sobre o fenômeno,
nos chama a atenção para a necessidade de vê-los sob uma perspectiva sócio -
cultural.
Todas as
investigações atuais têm chamado a atenção para a multi-determinação da surdez
e para a adequação do emprego do termo surdo, uma vez que é esta a expressão
utilizada pelo surdo, para se referir a si mesmo e aos seus iguais. É muito
importante considerar que o surdo difere do ouvinte, não apenas porque não
ouve, mas porque desenvolve potencialidades psico - culturais próprias. Somos
todos pessoas diferentes.
Surdo-mudo
Provavelmente
a mais antiga e incorreta denominação atribuída ao surdo. O fato de uma pessoa
ser surda não significa que ela seja muda. A mudez é uma outra deficiência.
Compreendendo o mundo surdo
Muitas crianças surdas que se tornam adultos surdos dizem que o que mais
desejavam era poder comunicar-se com os pais.
Por anos,
muitos têm avaliado mal o conhecimento pessoal dos surdos. Alguns acham que os
surdos não sabem praticamente nada, porque não ouvem nada. Há pais que super
protegem seus filhos surdos ou temem integrá-los no mundo dos ouvintes. Outros
encaram a língua de sinais como primitiva, ou inferior, à língua falada. Não é
de admirar que, com tal ignorância, alguns surdos se sintam oprimidos e
incompreendidos.
Todos sentem
a necessidade de ser entendidos. Aparentes inabilidades podem empanar as
verdadeiras habilidades e criatividades do surdo. Em contraste, muitos surdos consideram-se “capacitados”.
Comunicam-se
fluentemente entre si, desenvolvem auto-estima e têm bom desempenho acadêmico, social e espiritual. Infelizmente, os maus-tratos que muitos surdos sofrem levam alguns deles a suspeitar dos ouvintes.
Contudo, quando os ouvintes interessam-se sinceramente em entender a cultura
surda e a língua de sinais natural, e encaram os surdos como pessoas “capacitadas”, todos
se beneficiam.
Escutar com os olhos
A chave para
uma boa comunicação com uma pessoa surda é o claro e apropriado contato visual. É uma
necessidade, quando os surdos se comunicam. De fato, quando duas pessoas
conversam em língua de sinais é considerado rude desviar o olhar e interromper
o contato visual. E como captar a atenção de um surdo? Em vez de usar o nome da
pessoa é melhor dar um leve toque no ombro ou no braço dela, acenar se a pessoa
estiver perto, ou se estiver distante, fazer um sinal com a mão para outra
pessoa chamar a atenção dela. Dependendo da situação, pode-se dar umas
batidinhas no chão ou fazer piscar a luz. Esses e outros métodos apropriados de
captar a atenção dão reconhecimento à experiência dos Surdos e fazem parte da
cultura surda. Para aprender bem uma língua de sinais, precisa-se pensar nessa
língua. É por isso que simplesmente aprender sinais de um dicionário de língua de sinais não seria útil em ser realmente eficiente
nessa língua. Muitos aprendem diretamente com os que usam a língua de sinais no
seu dia-a-dia — os surdos. Em todo o mundo, os surdos expandem seus
horizontes usando uma rica língua de sinais.
Língua: Conjunto do vocabulário de um idioma, e de suas regras
gramaticais; idioma. Por exemplo: inglês, português, LIBRAS.
Linguagem: Capacidade que o homem e alguns animais possuem para se
comunicar, expressar seus pensamentos.
Língua de Sinais: É a língua
dos surdos e que possui a sua própria estrutura e gramática através do canal
comunicação visual, a língua de sinais dos surdos urbanos brasileiros é a LIBRAS, em Portugal é a LGP.
Cultura Surda: Ao longo dos séculos os surdos foram formando uma cultura
própria centrada principalmente em sua forma de comunicação. Em quase todas as
cidades do mundo vamos encontrar associações de surdos onde eles se reúnem e
convivem socialmente.
Intérprete de Língua de Sinais: Pessoa ouvinte que interpreta para os surdos uma comunicação falada
usando a língua de sinais e vice-versa.
Bebês de pais surdos
“Assim como
os bebês de pais ouvintes começam a balbuciar com cerca de sete meses ... , os bebês de pais surdos começam a ‘balbuciar’ com as mãos imitando a língua de sinais dos pais”, mesmo sendo
ouvintes.- Jornal londrino The Times.
A professora
Laura Petitto, da Universidade McGill, em Montreal, Canadá, é da opinião de
que os bebês nascem com sensibilidade a ritmos e padrões característicos a
todos os idiomas, incluindo a língua de sinais. Ela disse que os bebês ouvintes
que têm “pais surdos que sabem sinalizar, gesticulam de maneira diferente, seguindo um padrão rítmico
específico, distinto de outros movimentos com as mãos. . . . É um balbucio, mas
com as mãos”. Os bebês expostos à língua de sinais produziram
dois tipos de movimento com as mãos, ao passo que os que conviviam com pais
ouvintes produziram apenas um tipo. Os pesquisadores usaram um sistema de
rastreamento de posição para registrar os movimentos das mãos dos bebês na
idade de 6, 10 e 12 meses.
Como agir diante de um surdo
Muitas
pessoas não deficientes ficam confusas quando encontram uma pessoa com deficiência. Isso é natural. Todos podem se sentir desconfortáveis diante
do "diferente". Mas esse desconforto diminui e pode até mesmo
desaparecer quando existem muitas oportunidades de convivência entre pessoas
deficientes e não-deficientes.
Ao tratar uma
pessoa deficiente como se ela não tivesse uma deficiência, estaríamos ignorando
uma característica muito importante dela. Dessa forma, não estaríamos nos
relacionando com ela, mas com outra pessoa, que não é real.
A deficiência
existe e é preciso levá-la na sua devida consideração. Neste sentido torna-se
de grande importância não subestimar as possibilidades, nem as dificuldades e
vice-versa. As pessoas com deficiência têm o direito, podem e querem tomar suas
próprias decisões e assumir a responsabilidade por suas escolhas.
Ter uma deficiência
não faz com que uma pessoa seja melhor ou pior do que uma pessoa
não deficiente, ou que esta não possa ser eficiente. Provavelmente, por
causa da deficiência, essa pessoa pode ter dificuldade para realizar algumas
atividades, mas por outro lado, poderá ter extrema habilidade para fazer outras
coisas. Exatamente como todos.
A maioria das
pessoas com deficiência não se importa de responder perguntas a respeito da sua deficiência ou sobre como ela realiza algumas
tarefas. Quando alguém deseja alguma informação de uma pessoa deficiente, o
correto seria dirigir-se diretamente a ela, e não a seus acompanhantes ou
intérpretes. Segundo professores, intérpretes e os próprios surdos, ao se tomar
alguns cuidados na comunicação com o surdo, confere-lhe o respeito ao qual ele
tem direito.
Algumas dicas importantes
- Não é correto dizer que alguém é surdo-mudo. Muitas pessoas surdas não falam
porque não aprenderam a falar. Muitas fazem a leitura labial, e podem
fazer muitos sons com a garganta, ao rir, e mesmo ao gestualizar.
Além disso, sua comunicação envolve todo o seu espaço, através da expressão
facial-corporal, ou seja o uso da face, mãos, e braços, visto que, a
forma de expressão visual-espacial é sobretudo importante em sua língua natural.
- Falar de maneira clara, pronunciando
bem as palavras,
sem exageros, usando a velocidade normal, a não ser que ela peça para
falar mais devagar.
- Usar um tom normal de voz, a não ser
que peçam para falar mais alto. Gritar nunca adianta.
- Falar diretamente com a pessoa, não de
lado ou atrás dela.
- Fazer com que a boca esteja bem
visível. Gesticular ou segurar algo em frente à boca torna impossível a
leitura labial. Usar bigode também atrapalha.
- Quando falar com uma pessoa surda,
tentar ficar num lugar iluminado. Evitar ficar contra a luz (de uma
janela, por exemplo), pois isso dificulta a visão do rosto.
- Se souber alguma língua de sinais,
tentar usá-la. Se a pessoa surda tiver dificuldade em entender, avisará.
De modo geral, as tentativas são apreciadas e estimuladas.
- Ser expressivo
ao falar. Como as pessoas surdas não podem ouvir mudanças sutis de tom de
voz, que indicam sentimentos
de alegria, tristeza, sarcasmo ou seriedade, as expressões faciais, os gestos ou sinais
e o movimento
do corpo são excelentes indicações do que se quer dizer.
- A conversar, manter sempre contato
visual, se desviar o olhar, a pessoa surda pode achar que a conversa
terminou.
- Nem sempre a pessoa surda tem uma boa dicção.
Se houver dificuldade em compreender o que ela diz, pedir para que repita.
Geralmente, os surdos não se incomodam de repetir quantas vezes for
preciso para que sejam entendidas.
- Se for necessário, comunicar-se através
de bilhetes.
O importante é se comunicar. O método não é tão importante.
- Quando o surdo estiver acompanhado de
um intérprete,
dirigir-se a ele, não ao intérprete.
- Alguns preferem a comunicação escrita,
alguns usam linguagem em código
e outros preferem códigos
próprios. Estes métodos podem ser lentos, requerem paciência e
concentração.
Em suma, os
surdos são pessoas que têm os mesmos direitos, os mesmos sentimentos, os mesmos receios, os mesmos sonhos, assim como todos. Se ocorrer alguma situação embaraçosa, uma
boa dose de delicadeza, sinceridade e bom humor nunca falham.
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