SÃO PAULO, CURITIBA — O procurador Deltan Dallagnoll criticou
duramente nesta sexta-feira o relatório do deputado Paulo Teixeira (PT-SP)
sobre a Medida Provisória 703/2015, que altera as regras do acordo de
leniência, apresentado na última terça-feira à Comissão Especial Mista da
Câmara e do Senado. Dallagnoll afirmou que o relatório é "um ataque direto
à Lava-Jato" e que a investigação pode sofrer ataques em várias frentes. A
votação do relatório foi adiada para o próximo dia 10 e o prazo final da
comissão é 29 de maio. A relatora revisora da MP é a senadora Gleisi Hoffmann
(PT-PR), investigada na Lava-Jato.
- É uma aberração - afirmou Dallagnol, um dos porta-vozes da
força-tarefa da Lava-Jato.
Dallagnol afirmou que, se aprovada a Medida Provisória, o crime de
cartel, como o que ocorreu na Petrobras, deixará de ser considerado crime de
corrupção. Além disso, permitirá que as empresas possam apenas pagar multas
para compensar ilícitos, sem que reconheçam ter cometido crimes, o que
desestimula a entrega de fatos novos que possam ser investigados.
A MP 703 permite que os acordos de leniência sejam feitos diretamente
com a advocacia pública, sem participação do Ministério Público, e impede o
compartilhamento de provas com investigações criminais. Outra mudança é em
relação aos acordos de delação premiada, que não poderão ser firmados com
acusados que estejam presos.
- Isso significa que um acordo feito num município, com um advogado
contratado pelo prefeito, pode impedir que seja aberta uma ação de improbidade
- afirmou o procurador.
Ao apresentar mais duas denúncias à Justiça Federal de Curitiba, contra
o ex-senador Gim Argello e o empresário Ronan Maria Pinto, além de
outras 18 pessoas, Dallagnol afirmou que é preciso refletir e repensar a
República, pois o Brasil vive uma inundação de corrupção e é necessário que
haja uma reação institucional, com "muros que nos protejam", como a
reforma do sistema de Justiça e a reforma política.
- O envolvimento de pessoas de tamanha importância em crimes tão graves
na nossa República nos faz repensar o próprio funcionamento dela. Estamos
vivendo uma inundação de corrupção e tirando essa água com baldes. Precisamos
de barragens, muros que nos protejam dessa inundação, e isso só vai acontecer
com a reforma do sistema de Justiça e com uma reforma política consistente -
afirmou
Dallagnol afirmou que, dois anos após o início da Lava-Jato, preocupa ao
Ministério Público que não exista nenhum movimento concreto em defesa dessas
reformas.
- Carecemos de líderes que levantem essas bandeiras. Se isso não
acontecer, vamos continuar enxugando gelo e dando murro em ponta de faca -
disse ele.
No relatório do deputado Paulo
Teixeira, o acordo de leniência passa a ser firmado pelos “órgãos de controle
interno, de forma isolada ou em conjunto com o Ministério Público ou com a
Advocacia Pública”. Ou seja, passam a negociar diretamente com as empresas
envolvidas. O relatório exclui a exigência de as empresas apresentarem
documentos de "forma célere" e passa a prever isenção de penas que
embaracem a participação das empresas em licitações públicas ou as impeçam de
celebrar contratos administrativos; proíbe que se aplique às empresas que
fecharem acordo “qualquer outra sanção de natureza pecuniária decorrente das
infrações especificadas no acordo” e a multa é reduzida em até dois terços.
Caso a empresa seja a primeira a firmar um acordo, é possível eliminar
totalmente o pagamento de multas.
Outra mudança é que o acordo de
leniência feito com as advocacias públicas passam a inviabilizar o ajuizamento
ou prosseguimento de ações civis e com base na lei anticorrupção.
A Procuradora-Geral da República pediu
a suspensão da eficácia da MP ao Supremo Tribunal Federal na ação direta de
inconstitucionalidade movida pelo PPS. A MP 703 foi assinada pela presidente
Dilma Rousseff e publicada no Diário Oficial da União no dia 21 de dezembro do
ano passado.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/brasil/e-uma-aberracao-diz-procurador-sobre-mp-dos-acordos-de-leniencia-19249763#ixzz4CP22Xzju
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por Cleide Carvalho e Luigi
Poniwass, especial para O GLOBO
06/05/2016 16:58 / Atualizado 06/05/2016
19:28
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