Hoje em dia o livro “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu está em todas as livrarias com mais de 30 traduções. Encontra-se “A Arte da Guerra” para todo tipo de freguês: a arte da guerra para mulheres, para advogados, etc. A verdade é que qualquer grande livro da antigüidade, se for lido corretamente, pode conter ensinamentos valiosos para o homem de todas as épocas. Com “A Arte da Guerra” ocorre isso. E é, sem dúvida, um dos maiores tratados de estratégias já escritos. Porém, hoje nós vivemos – como dizem os taoístas – no reino das 10.000 coisas.
A informação é tanta que existe muita desinformação embutida no meio. Há muita teoria para cada detalhe. Isso acaba nos afastando do verdadeiro conhecimento, do princípio básico que rege todas as coisas. Temos muita informação, mas não sabemos o que fazer com ela. Não temos sabedoria. Os grandes livros do passado foram escritos por sábios, homens que podiam raciocinar com tranqüilidade. Hoje, a nossa leitura é muito poluída e nos perdemos no meio dela.
Se você der uma folheada no livro “A Poética”, de Aristóteles, vai encontrar lá a seguinte informação: “O mito tem começo, meio e fim.” Se formos analisar essa frase com base em tudo aquilo que foi escrito sobre o mito, iremos desenvolver uma verdadeira tese em cima dela.
Se formos ler esse livro corretamente, entendendo o contexto no qual foi escrito, descobriremos que a palavra mito, para o grego contemporâneo de Aristóteles, significava apenas uma fábula.
Portanto, mito é igual a fábula, que evidentemente deve ter começo meio e fim. É uma descrição simples e direta, não carece de nenhuma tese. O sentido da leitura muda totalmente. Aliás, leitura não é apenas decifrar códigos escritos, é dar sentido a eles.
“A Arte da Guerra” foi escrito para um povo que possui uma visão de mundo totalmente integrada à natureza. Um povo que se comunica por ideogramas e cuja língua tem uma sonoridade que estimula os sentidos. No Oriente o hemisfério cerebral que comanda a linguagem é o direito, enquanto que no Ocidente é o esquerdo, o hemisfério lógico, analítico. Isso foi descoberto na metade do século passado. “A Arte da Guerra” é um livro para ser lido com os sentidos, não com a lógica dura e analítica. Se for lido assim não passará de um simples livreto de administração, pobre e inferior a qualquer livro básico de nossos dias.
É preciso ler “A Arte da Guerra” dando sentido a ele, e isso não é fácil. É preciso que se dê o sentido correto para que as lições contidas nesse valioso livro apresentem algum resultado. E existe um sentido correto a ser dado a esse livro? Existe! E o sentido correto é bastante flexível. É universal e aplicável ao homem de qualquer época, nação ou cultura. É um livro que está acima da descrição e do julgamento. E esse é o primeiro erro dos executivos que lêem Sun Tzu. Subestimam o conteúdo dos escritos como quem está lendo um livro primitivo e exótico. Esse é um erro crasso! É preciso, no mínimo, conhecer um pouco do pensamento budista e taoísta. Sun Tzu, o escritor deste livro, era um monge guerreiro.
O livro está fortemente influenciado pelo I CHING – o Livro das Mutações – e pelo modo de vida do povo daquela época. A visão que o chinês tem da guerra não é a mesma que nós temos. É muito mais abrangente. O guerreiro mestre é visto como um sábio, como um homem superior, capaz de lidar com todos os aspectos da vida. Perito na administração de conflitos, sejam eles quais forem. Na China, o mesmo ideograma que serve para identificar a palavra corte, é o mesmo para a palavra lucro. Conclusão: se você é um guerreiro hábil no manejo da espada (corte) é também um hábil negociante (lucro).
Um verdadeiro perito na arte da guerra precisa administrar as necessidades de seu exército com a mesma maestria com que administra um negócio ou o seu lar. O guerreiro mestre de nossos dias pode ser comparado a qualquer um que ocupe um cargo de liderança em qualquer setor onde tenha que apresentar resultados, que tenha uma missão definida. É impressionante notar que “A Arte da Guerra” tem despertado a atenção de tantos executivos, mesmo com o foco na figura do líder tradicional. Justo numa época em que o foco maior é o trabalho em equipe, a descentralização e a participação dos grupos nas tomadas de decisões. Mas isso não conflitua em nada com os princípios propostos por Sun Tzu.
No moderno ambiente coorporativo ainda há lugar para a disciplina. As decisões de grupos de executivos – os comandantes do exército – podem se assemelhar às de um conselho de guerra. A figura do grande líder não irá desaparecer nesse novo paradigma coorporativo. “A Arte da Guerra” nunca foi tão atual. Um dos maiores líderes de nossa época é sem dúvida Jack Welch, que durante décadas esteve à frente da GE e foi responsável por um crescimento magnífico desta empresa. Ele descreve em seu livro que a sua maior jogada na GE foi priorizar os chefes que melhor sabiam trabalhar em equipe. Mas é bom lembrar que as inovações propostas por ele foram aplicadas numa empresa com tradição militar, onde a disciplina e a hierarquia estavam bem inseridas neste cenário, compondo a clareza organizacional da empresa.
Abílio Diniz é outro exemplo de grande líder. Sua figura pode servir de inspiração a seus subordinados. É bem sucedido em todos os setores de sua vida, além de tem uma saúde e forma física invejáveis, como todo guerreiro mestre que se preza. A necessidade que os homens têm de encontrar líderes que sirvam como fonte de inspiração é a verdadera razão do sucesso deste clássico, escrito há mais de 2.000 anos, que nunca sairá de moda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário