Carlos Marighella era
filho de um imigrante italiano, o operário Augusto Marighella e Maria Rita do
Nascimento, negra e filha de escravos. Teve sete irmãos e irmãs.
Fez os estudos iniciais no Ginásio da Bahia, hoje Colégio
Central. Contrariando as expectativas reservadas a famílias de poucas posses,
em 1929, Carlos começou a cursar engenharia civil na Escola Politécnica da
Bahia.
Já nessa época, com 18 anos, Carlos despertou para as lutas
sociais e entrou no Partido Comunista. Aos 21 anos, em 1932, foi preso pela
primeira vez, por escrever e divulgar um poema com críticas ao interventor da
Bahia, Juracy Magalhães.
Em
1936, abandonou o curso de engenharia e mudou-se para São Paulo, com a tarefa
da direção partidária de reorganizar o Partido Comunista, que se encontrava
esfacelado, após as lutas de 1935, na chamada Intentona Comunista.
Foi novamente preso.
No ano
de 1937 aconteceu a anistia, assinada pelo então ministro da Justiça, Macedo
Soares e Marighella foi libertado, mas as perseguições não cessaram, pois nesse
mesmo ano Getúlio Vargas deu o golpe instaurando o Estado Novo que colocou o Partido Comunista na
clandestinidade. A militância de Carlos Marighella incomodava o governo e é
novamente preso em 1939, e desta vez, confinado em Fernando de Noronha. Consta
que neste presídio foi estabelecida, pelos próprios prisioneiros, uma divisão
igualitária de tarefas, independente do peso político que o indivíduo tivesse
fora da prisão. Criaram uma Universidade Popular e ensinavam uns aos outros
filosofia, história, matemática. Marighella deu aulas de filosofia.
Após três anos em Fernando de Noronha, Carlos e os companheiros
presos foram transferidos para o presídio da Ilha Grande, no litoral do Rio de
Janeiro. Fernando de Noronha, nessa época do conflito da Segunda Guerra
Mundial, passou a ser base de apoio das operações militares dos aliados no
Atlântico Sul.
O início das divergências
No ano de 1943 aconteceu o polêmico apoio do Partido Comunista
ao governo ditatorial de Vargas, em razão da entrada do Brasil na guerra.
Marighella discordava dessa posição, mas mesmo preso é eleito para o Comitê
Central do partido.
Com a
vitória dos aliados na luta contra o nazismo e o fascismo ,
no ano de 1945, aconteceu nova anistia no Brasil. O Partido Comunista voltou à
legalidade e Marighella foi eleito deputado constituinte.
Com o
fim do Estado Novo, venceu as eleições o general Eurico Gaspar Dutra,
empossado em 31 de janeiro de 1946, que, aproximando-se dos setores
conservadores, desencadeou ferrenha perseguição ao Partido Comunista, que foi
posto novamente na ilegalidade, em 1947. Nessa época Marighella dirigia a revista
teórica do partido chamada Problemas. No início
de 1948 foram caçados os mandato dos parlamentares comunistas e Marighella
voltou à clandestinidade. Ainda nesse ano nasceu o seu filho Carlos, fruto do
relacionamento que teve com Elza Sento Sé. Conheceu Clara Charf, que será sua
companheira até o fim da vida.
Na
clandestinidade, de 1949 a 1954, em São Paulo, Marighella atuou na área sindical do partido, mas
incomodava a direção partidária, pois era considerado excessivamente
esquerdista. Sua atuação aproximou o partido da classe operária e juntos
promoveram uma greve geral, conhecida como a "Greve dos Cem Mil", em
1953. Também participou da campanha "O petróleo é nosso". Ainda em
1953, foi à China e à União Soviética, retornando em 1954.
No ano de 1954, depois da morte de Getúlio Vargas e no início do
governo deJuscelino Kubistchek, os comunistas, ainda na
ilegalidade, começaram a atuar com mais visibilidade. Na política internacional
fatos relevantes marcaram esse período: em 1956, o XX Congresso do PC da União
Soviética denunciou os crimes de Stálin; em 1959, aconteceu a revolução cubana.
Vivia-se o auge da chamada "guerra fria", mas o Partido Comunista
Brasileiro adotou a "coexistência pacífica" pregada pela União
Soviética.
Com o
fim do governo de Juscelino Kubistchek, Jânio Quadros assumiu a presidência, para renunciar
sete meses depois. João Goulart,
depois de uma crise política, tomou posse e o Partido Comunista voltou à
legalidade aproximando-se do governo. Carlos Marighella passou a divergir da
linha adotada pelo partido, divergências que em 1962, deram origem ao Partido
Comunista do Brasil - PC do B.
Em 1964, o golpe de estado, que estabeleceu a ditadura militar,
proporcionou uma nova perseguição aos comunistas. Marighella foi baleado e preso num cinema da
Tijuca, no Rio de Janeiro. Conseguiu sobreviver e ficou encarcerado por 80
dias, e em seguida, foi solto pela atuação do advogado Sobral Pinto.
Publicou Por que resisti à prisão, em 1965 e em 1966, A Crise Brasileira onde
discorreu sobre sua opção por organizar os trabalhadores brasileiros contra a
ditadura e a luta pelo socialismo. Nesse livro pregava a luta armada, com base
numa aliança entre operários e camponeses.
Carlos Marighella continuou divergindo da linha oficial
adotada pelo PCB e, em 1967, suas posições saíram vitoriosas na Conferência
Estadual de São Paulo, em confronto com Luiz Carlos Prestes. Nessa época,
preparava-se o VI Congresso do partido e aconteceu uma intervenção da direção
partidária nos diretórios dos estados, visando impedir o crescimento das idéias
defendidas por Marighella, que,
rompeu com o partido logo após uma viagem à Cuba, onde foi participar de uma
reunião da Organização Latino-Americana de Solidariedade-OLAS. Sua participação
foi desautorizada pela cúpula partidária. Retornando ao Brasil foi expulso do
PCB e, em seguida, fundou a Ação Libertadora Nacional-ALN, que preconizava a
luta armada.
1968
foi um ano de atos radicais da ALN. Marighella participou de diversas ações armadas
visando adquirir fundos para a construção do partido, com diversos assaltos a
bancos que foram reinvidicados pela ALN. A organização também teve fortes
influências no meio estudantil.
Nesse período a ditadura aumentou a repressão aos grupos de
esquerda, entre eles, a Vanguarda Popular Revolucionária, comandada pelo
capitão Carlos Lamarca, que desviou um carregamento de armas para a guerrilha
que se instalava no Vale do Ribeira, em São Paulo. Em setembro desse ano, o
embaixador norte-americano foi feito prisioneiro por integrantes da ALN e do
MR-8, e foi trocado por quinze presos políticos.
Marighella era apontado como inimigo público número
um. Cartazes de "Procurados" foram espalhados por todo o Brasil e a
sua perseguição envolveu toda a estrutura da polícia política. Para orientar as
ações da ALN, Marighella escreveu oMini-manual do Guerrilheiro Urbano.
A
Aliança Libertadora Nacional tinha aproximações com os frades dominicanos e
alguns deles estavam presos. Montou-se uma emboscada, através do contato desses
frades, que agendaram, sob tortura, um encontro na alameda Casa Branca, em São
Paulo. No dia 4 de novembro de 1969, às oito horas da noite, Carlos Marighella caiu na emboscada armada pelo extinto
DOPS (Departamento de Ordem Pública e Social) de São Paulo. Cercado por 30
policiais, com o delegado Sérgio Paranhos Fleury, à frente, foi assassinado. A
ALN existiu até 1974.
Sua situação de combatente contra a ditadura foi reconhecida
pelo governo brasileiro, em 1996 e sua esposa Clara Charf passou a ser
indenizada, a partir de 2008.
*Antônio do Amaral Rocha
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
<b>*Antônio do Amaral Rocha</b> é jornalista, com estudos de pós-graduação em Literatura Brasileira e Cinema. Trabalha como editor, artista gráfico e resenhista, colaborador free-lance de dive
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
<b>*Antônio do Amaral Rocha</b> é jornalista, com estudos de pós-graduação em Literatura Brasileira e Cinema. Trabalha como editor, artista gráfico e resenhista, colaborador free-lance de dive
5 de dezembro de 1911, Salvador, Bahia<br>4 de novembro de
1969, São Paulo, SP
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